"O edifício está realmente a cargo de uma mulher arquiteta?" Perguntei ao encarregado... O homem proferiu um poderoso sermão de apenas três frases curtas, pontuado pela seriedade de um orador. "Um arquiteto(a) é um(a) arquiteto(a)", disse ele "e você pode contá-los nos dedos de uma mão. Agora, este edifício está a cargo de uma arquiteta de verdade e acontece que seu nome é Julia Morgan, mas poderia ser também John Morgan." Jornalista em 1906 ao saber que Julia Morgan ganhara uma nova comissão. (Cortesia de Cal Poly San Luis Obispo, Biblioteca Robert E. Kennedy)
A recente notícia de que Jula Morgan recebeu postumamente a 2014 AIA Gold Medal, maior honraria do AIA, apesar de ser algo positivo e inspirador, levanta algumas importantes questões sobre o reconhecimento das mulheres na profissão. Ela é a primeira mulher, viva ou falecida, a receber a honra nos 106 anos de história do prêmio. De 1907 a 2012, todos os laureados foram homens.
Parede que Morgan estava predestinada a ser a primeira. Foi a primeira mulher a se formar na École de Beaux-Arts de Paris (1902) e a primeira mulher a obter licença profissional na Califórnia. Ela é conhecida principalmente como a arquiteta do extravagante e impressionante Hearst Castle em San Simeon, Califórnia, e por ter projetado mais de 700 edifícios.
Ao passo que este "olhar para trás" do AIA, que resultou na premiação póstuma da Sra. Morgan, pareça justo e muito atrasado, ele também trás consigo o espectro de uma história de negligência para com as arquitetas. Corrigir um equívoco histórico pode tranquilizá-los e amenizar as críticas, mas, infelizmente, é tarde demais para que a Sra. Morgan aproveite.
Então por que agora? "Talvez tenha sido a escolha certa para o AIA começar rever seus registros, como ele deveriam estar fazendo desde sempre." disse Arielle Assouline-Lichten, que encabeçou a petição do Pritzker de Denise Scott Brown juntamente com Caroline James e a organização Women in Design, composta por estudantes de Harvard. Denise Scott Brown, a mulher em questão no debate sobre a igualdade na profissão da arquitetura, disse: "O prêmio muda a trajetória do AIA."
Curiosamente, e talvez numa tentativa de se manter afastado da controvérsia e silenciar as críticas, o AIA destacou as realizações de Morgan sem se referir a gênero, cultura ou à sua própria história. "A única coisa que podemos constatar como fato é que o significante conjunto da obra de Morgan teve influência duradoura sobre a teoria e prática da arquitetura - o que é a razão pela qual ela recebeu a Gold Medal", disse Matt Tinder, porta-voz do AIA.
No entanto, a decisão não surgiu de um vácuo cultural, e nem todos estão satisfeitos com a posição do AIA de "avançar alegremente sem reconhecer seu passado". "O AIA deveria ser elogiado", disse Assouline-Lichten, "contudo, é muito ruim para nossa profissão achar que premiar uma arquiteta 56 anos após seu falecimento seja considerado um progresso."
O que uma premiação póstuma diz sobre o presente quando há tantas arquitetas brilhantes - e vivas - na vanguarda da profissão? Leva realmente meio século para avaliar toda a documentação histórica antes que uma mulher possa receber a Gold Medal? Ou talvez, já que ela é a primeira mulher a receber o prêmio, faz sentido o AIA começar do passado e, a partir daí, trilhar seu caminho em direção ao presente. Fica a pergunta: Quantas outras arquitetas merecedoras permanecem na "espera"? E elas também receberão reconhecimento?
Guy Horton é escritor e reside em Los Angeles. Além de encabeçar o "The Indicator", contribui frequentemente com o The Architect's Newspaper, Metropolis Magazine, The Atlantic Cities, e The Huffington Post. Também escreveu para o Architectural Record, GOOD Magazine, e Architect Magazine. Você pode ouvir Guy na rádio ou podcast em DnA: Design & Architecture ou segui-lo no Twitter @GuyHorton.